Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O comboio errado pode levar-nos à estação certa, assim como a lancheira errada nos pode conduzir à pessoa certa. Pode reconciliar duas pessoas com a vida e levá-las numa viagem de (re)descoberta de si mesmas. Uma lancheira pode conter muitos aromas e sabores agradáveis, daqueles que fazem sorrir, viajar e sonhar. Pode, ainda, conter um bilhete para a felicidade ou para uma vida nova. O poder da comida é imenso, mas só toca aqueles que a respeitam.
Créditos da imagem: Medeia Filmes
Ila Vaid (Nimrat Kaur), é uma mulher jovem, casada, que tenta combater a indiferença do marido cozinhando pratos deliciosos, inspirados no livro de culinária da sua avó, que seguem no “correio das lancheiras” (Dabawallahs) para o local de trabalho daquele. Ao fim do dia, espera ansiosamente pela sua reacção ao prato ou ao novo ingrediente que a tia, que vive no andar de cima, lhe vai enviando através de uma cesta pendurada na janela. É a sua conselheira e confidente.
Créditos das imagens: Medeia Filmes
A Lancheira (Dabba), que regressava sempre com uma boa parte do seu recheio, chega, certo dia, vazia. Esperançada, Ila arranja-se para o marido. Perante a mesma indiferença, insiste em saber se a comida lhe agradara. Descobre então que a sua merenda foi parar às mãos de outra pessoa. Decide, a conselho da tia, escrever ao bom garfo que tinha apreciado a sua refeição. A partir daqui, iniciam-se trocas diárias de bilhetes (em papel!) que vão transformar a sua vida que passa a ser temperada pelas críticas à comida que prepara, levando-a a cozinhar ainda com mais gosto.
Saajan Fernandes (Irrfan Khan), um contabilista à beira da reforma que vive sozinho, é o destinatário da marmita que Ila prepara. A sua alma será tocada pelos maravilhosos aromas e pelas estórias que lhe vão chegando. É ao sabor dos pratos preparados por Ila que Fernandes desperta novamente para a vida.
A estória, de uma simplicidade desconcertante, realizada por Ritesh Batra, cativa logo no primeiro momento, transportando o espectador para outra dimensão, sendo que chama atenção para algumas questões sociais relevantes. A banda sonora, essa, entra no ouvido e leva-nos até à Índia. Foi uma noite de cinema que me deixou de alma cheia.
FRANGO COM AMÊNDOAS TORRADAS E CUSCUZ DE HORTELÃ
INGREDIENTES
100g de amêndoas com casca
1 frango cortado em pedaços
Sal e pimenta q.b.
Sumo e raspa de ½ limão
2 cebolas roxas cortadas em rodelas
2 dentes de alho picados
1 estrela de anis
1 pau de canela
1 c. de chá de sementes de coentros
1 c. de chá de gengibre em pó
1 c. de sopa de gengibre fresco ralado
1 c. de café de açúcar
80 ml de vinho moscatel
80 ml de água quente
Para o cuscuz
1 chávena de cuscuz
1 chávena de água
1 noz de manteiga
Sal q.b.
Para o vinagrete
Sal e pimenta q.b.
Azeite q.b.
Sumo de limão q.b.
1 c. de chá de mostarda
1 pitada de açúcar
2 pés de hortelã (só as folhas)
PREPARAÇÃO
Aquecer o forno a 180.ºC, colocar as amêndoas num tabuleiro forrado com papel vegetal e levar ao forno durante 10 minutos. Depois de arrefecidas, coloca-las num pano e esfregar por forma a soltarem a pele. Cortar as amêndoas grosseiramente e reservar.
Temperar o frango com sal, pimenta, gengibre em pó e o sumo de limão. Reservar cerca de 30 minutos. De seguida, numa caçarola larga de cerâmica, colocar o frango com a pele para baixo e deixar cozinhar na própria gordura. Quando estiver bem dourado, virar e deixar que termine de cozinhar. Retirar o frango e reservar.
Deitar as cebolas, os alhos, o gengibre ralado, a estrela de anis, a canela e as sementes de coentros na caçarola e deixar cozinhar até caramelizarem. Adicionar o vinho e deixar reduzir.
Juntar novamente o frango, para ganhar um pouco do sabor do refogado e retirar novamente. Depois, juntar a água e deixar apurar um pouco. Rectificar o tempero e reduzir o refogado a um molho espesso com a ajuda da varinha mágica. Passar o molho por passador e colocar numa molheira para servir.
Entretanto, aquecer água para fazer o cuscuz. Deitar o cuscuz num recipiente e cobrir com a água quente. Deixar cozinhar por cinco minutos.
Noutro recipiente, colocar os ingredientes do vinagrete e emulsionar com a varinha mágica. Rectificar os temperos e deitar cerca de três colheres de sopa sobre o cuscuz, juntamente com a manteiga. Envolver tudo com a ajuda de um garfo e servir.
Servir o frango com o cuscuz, as amêndoas e o molho.
Bom apetite!
Que bos faga bun porbeito!
Hoje celebra-se o Dia Internacional dos Museus. Em Lisboa, as actividades começaram ontem. Por isso, a minha tarde foi dedicada a visitar dois lugares que há muito andava para ver. Um deles era o Museu do Fado – um ícone da cidade e abrigo daquele Património Imaterial da Humanidade.
Quem visite o Museu do Fado este fim-de-semana, contará com uma visita guiada e com a actuação de alguns artistas. A entrada para estes eventos é gratuita.
Neste espaço, sito no Largo do Chafariz de Dentro, em Alfama, num edifício que inicialmente albergava uma estação de águas, encontra-se o quadro original “O Fado”, de José Malhoa. Agradavelmente acolhedor, convida a ficar e a ouvir o nosso Fado. No corredor que dá para o largo, uma fotografia da Amália marca a entrada. Vêem-se guitarras, lê-se um pouco da sua história, bem como a do Fado, sem esquecer o período da sanção do século passado. Mas, quem desejar entrar, ali mesmo, numa casa de fado, também o poderá fazer, pois o Museu tem uma sala onde reproduz o ambiente daqueles lugares com gravações de vários fadistas de renome a actuar no “Clube do Fado” e não só.
Marcando o património imaterial da cidade de Lisboa desde a sua génese, há 200 anos, conhecer o Fado, quer se goste ou não do género, é quase obrigatório.
"Cantarei até que a voz me doa"
Cantarei até que a voz me doa
Para cantar, canto sempre o meu fado
Como a ave que tão alto voa
E é livre de cantar em qualquer lado
Cantarei até que a voz me doa.
Cantarei até que a voz me doa
Ao meu país, à minha terra, à minha gente
À saudade e à tristeza que magoa
Ao amor de quem ama e morre ausente
Cantarei até que a voz me doa.
Cantarei até que a voz me doa
O amor e a paz cheia de esperança
Ao sorriso e à alegria da criança
Cantarei até que a voz me doa.
Fado cantado por Maria da Fé
José Luís Gordo / José Fontes Rocha
Para o jantar, nada melhor do que confeccionar uma sopa simples com sabores e ingredientes lusitanos.
SOPA DE FAVAS
INGREDIENTES
1 kg de favas tenras com casca, cortadas em juliana
1 farinheira
2 batatas médias, cortadas em pequenos cubos
1 cebola picada
2 cenouras cortadas em pequenos cubos
½ molho de coentros picados
Água q.b.
Sal e pimenta q.b.
Piso de poejos q.b.
PREPARAÇÃO
Numa panela, colocar a água e a farinheira com dois palitos em cada uma das extremidades para que não rebente. Deixar cozer. Retirar e reservar.
De seguida, juntar os legumes ao caldo da cozedura da farinheira e deixar cozinhar. Temperar com um pouco de sal e pimenta.
Servir quente com uma colher chá de piso poejos e pedaços de farinheira.
Bom apetite!
Bon appétit!
Jo étvágyat!
Que bos faga bun porbeito!
Originárias de Trás-os-Montes, terra de gente de trabalho e vida dura, e enraizadas na cultura gastronómica daquela região, as casulas são, em rigor, o feijão que se colhe ainda na vagem quando o grão está bem formado, mas ainda não está seco.
Para fazer parte da mesa durante os rigorosos Invernos, as vagens são partidas em pedaços e colocadas a secar ao sol durante vários dias. Depois de bem secas, acondicionam-se até chegar a quadra Carnavalesca, altura em que se faz o famoso prato de casulas com butelo, um enchido que é preparado com ossos esmagados, típico da região transmontana.
INGREDIENTES
200g de casulas
1 folha de louro
1 pé de segurelha
1 c. de sopa de azeite
1 cebola picada
1 dente de alho picado
150g de tomate em conserva (em pedaços)
½ chouriço, sem pele e cortado às rodelas
200g de toucinho fumado, cortado em pedaços
Sal e pimenta q.b.
Caldo q.b.
½ ramo de salsa picada
PREPARAÇÃO
Numa panela de pressão, colocar as casulas, previamente lavadas, a folha de louro e a segurelha. Cobrir com água e levar ao lume. Deixar ferver cerca de 40 minutos.
De seguida, preparar o refogado. Num tacho colocar o azeite e a cebola e deixar alourar. Adicionar o alho e o tomate e deixar apurar um pouco.
Juntar o toucinho e o chouriço e deixar que libertem osa sabores. É então altura de juntar as casulas que se retiram do caldo com a ajuda de uma escumadeira. Regar com um pouco do caldo da cozedura das casulas. Temperar com um pouco de sal e pimenta e refrescar com salsa picada.
Bom apetite!
Bon appétit!
Jo étvágyat!
Que bos faga bun porbeito!
Chegar numa tarde ou num dia qualquer
Às aldeias humildes onde ninguém espera,
Onde o perfume das flores, beijos de primavera
Nos recebe e nos faz pulsar o coração
Na emoção singela das coisas pequenas
que sabem ser doces, nos parecem risonhas
atrás do encanto ingénuo da tarde que sonha
ou do dia que arqueia da sua canção.
Cansaço inútil o nosso na bruma de olvido
que tecem as fragâncias das flores de ninho
num encantamento de amor e de bondade!
E sentirmo-nos humildes pequenos e malditos
pela estrada ilusória de nossos longos gritos
no quebranto da fatalidade.
Pablo Neruda, "As aldeias humildes" in Cadernos de Temuco
AÇORDA COM FILETES DE CAVALA
INGREDIENTES
500g de pão saloio de véspera, cortado em pedaços
0,5L de água
3 dentes de alho, laminados
100 ml de azeite
1 ramo de coentros, picados, + algumas folhas para finalizar
2 ovos
Sal e pimenta q.b.
2 latas conserva de filetes de cavala em óleo
PREPARAÇÃO
Colocar o pão num recipiente e cobrir com água. Deixar a demolhar um pouco.
De seguida, fazer o refogado deitando o azeite num tacho seguido do alho. Deixar alourar ligeiramente e juntar alguns coentros.
Adicionar o pão e a água, temperar com sal e pimenta e envolver bem no refogado. Deixar cozer. Nesta fase, poder-se-á juntar mais alguns coentros frescos.
Juntar os ovos e envolver no preparado. Finalizar com as restantes folhas de coentros e com as filetes de cavala.
Bom apetite!
Bon appétit!
Jo étvágyat!
Que bos faga bun porbeito!
De inspiração asiática, este bolo é uma forma simples e deliciosa de celebrar o Dia da Mãe. Embora não seja muito adepta destes dias, hoje, sinto que devo fazer uma homenagem à minha mãe.
Maria, de nome, casou aos 17 anos. Aos 18, via-me nascer. Depois de mim, teria mais três filhos. O desejo de ter um rapaz só se concretizaria na última gravidez. Mudar fraldas (ainda de pano!) e aturar as birras de quatro crianças vivaças, não foi tarefa fácil. Todavia, ela conseguiu.
Com ela tomei o gosto pela leitura, pela música e pelo cinema. Saltámos à corda, fizemos bailes e inventámos histórias de encantar. Foi com ela que fiz o primeiro desenho - um campo coberto de flores com pássaros a rasgar o céu.
Lisboa foi-me dada a conhecer pelos seus passos. Lembro as visitas e os passeios pelas ruas estreitas da capital, bem como as histórias que as marcavam. Estes terminavam sempre com a degustação de uns chaises na pastelaria Suíça, no Rossio, feitos com uma deliciosa massa, cobertos com chantilly e fios de ovos. Uma agradável forma de terminar a tarde.
Dia da Mãe, para mim, são todos os dias!
Obrigada mãe, por aturares as minhas frequentes manifestações de mau feitio durante a adolescência! ;-)
BOLO COM CALDA DE GENGIBRE
INGREDIENTES
250ml de gengibre cristalizado (1 chávena)
1 ½ chávena de água
1 chávena de açúcar mascavado
½ chávena de mel
125g de manteiga amolecida + um pouco para untar a forma
¼ de açúcar refinado
2 ovos
1 ½ chávena de farinha com fermento
½ chávena de leite
Natas batidas
PREPARAÇÃO
Pré-aquecer o forno a 170.ºC. Untar a forma com manteiga e reservar.
Levar o gengibre ao lume com a água, metade do açúcar mascavado e o mel. Quando levantar fervura, baixar o lume e deixar cozer por 10 minutos. Arrefecer e reservar.
De seguida, bater a manteiga e os restantes açúcares com a ajuda da batedeira eléctrica até obter um creme espesso. Adicionar então os ovos, um a um batendo entre cada adição.
Depois, juntar ao preparado a farinha e o leite, de forma intercalada, mexendo com cuidado.
Entretanto, retirar o gengibre da calda, cortar em pequenos cubos e misturar apenas ¾ na massa. Reservar o restante para decorar o bolo.
Deitar o preparado na forma e levar ao forno durante cerca de 1 hora. Fazer o teste do palito e retirar.
Manter o bolo na forma e regar com a calda de gengibre. Deixar a arrefecer, decorar com o restante gengibre e servir com as natas batidas.
Bom apetite!
Bon appétit!
Jo étvágyat!
Que bos faga bun porbeito!
Grafiti de José e Pilar, em Alfama, Lisboa
Uma das coisas que mais aprecio nas ruas de Lisboa são os graffiti bem desenhados nas paredes. Alguns são verdadeiras obras de arte. Nas minhas deambulações por Alfama, deparei-me com alguns artistas a trabalhar ao vivo, de que não captei imagens. Fixei e demorei-me na contemplação da que acima se apresenta. Mais do que os dizeres que rodeavam a figura, é a própria imagem que fala mais alto. Linda.
FEIJÃO-BRANCO COM CHOURIÇO CASEIRO
INGREDIENTES
600g de feijão-branco cozido, em conserva
4 c. de sopa de tomate em cubos
½ chouriço
1 cebola, cortada em cubos
½ dente de alho picado
1 fio de azeite
1 c. de sopa de manteiga
Salsa q.b.
80ml de vinho branco
Sal q.b.
Fatias de pão torrado, q.b.
PREPARAÇÃO
Num tacho, colocar o azeite e a manteiga.
De seguida, juntar a cebola e o alho. Deixar alourar.
Adicionar o tomate e deixar cozinhar um pouco.
Colocar o chouriço e, em lume brando, deixar que largue o sabor. Juntar então a salsa picada e temperar com um pouco de sal.
Refrescar o refogado com o vinho branco. Deixar evaporar o álcool e de seguida acrescentar o feijão-branco. Deverá deixar ganhar temperatura e apurar os sabores.
Entretanto, torrar as fatias de pão.
Para empratar, colocar uma fatia de pão no fundo prato, cobrir com o preparado de feijão-branco e chouriço e colorir com um pouco de salsa fresca.
Bom apetite!
Bon appétit!
Jo étvágyat!
Que bos faga bun porbeito!